quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Um bairro chamado Liberdade


Por Jaqueline Barreto e Elton Martins

Ruas, becos e vielas. Pessoas de um lado a outro. Gente. Muita gente. O bate-bate entre quem transita nesse bairro é algo mais que normal. Lá, todos os tipos de comércio têm espaço: ambulantes informais que vendem flores, acessórios, sandálias, bolsas, lanches, estabelecimentos tradicionais vendendo eletrodomésticos, roupas, e, é claro, a famosa feira do Japão conhecida pela diversidade de produtos e pelos baixos preços. Sons vindos dos camelôs na tentativa de levar o “ganha pão” para casa, buzinas dos carros e ônibus, crianças, tudo ao mesmo tempo e, mesmo assim, em perfeita harmonia.

A antiga estrada das boiadas onde era passagem para os bois que eram vendidos no sertão foi batizada com o nome de “Liberdade” devido à passagem do exército brasileiro que, na época, lutava pela independência da Bahia, em 1823. Após o fim da escravidão, esse bairro foi povoado por negros libertos e ex-escravos. Censos apontam esse local como o de maior concentração da população negra do Brasil. Só que, a negritude desse bairro não se restringe a meros dados demográficos.

A cada passo dado nos deparamos com as mais diversas manifestações dos “negões” e “negonas”. Sem sombra de dúvida, esse local respira e representa a cultura afro-brasileira em seus múltiplos aspectos: é o pagodinho, o sambinha, a cervejinha gelada, os terreiros de candomblé, entre outros.. Falar em estética negra é tocar em uma das suas principais marcas e referências. Penteados exóticos, tranças dos mais variados modelos e estilos, dreadslooks, cabelos blacks e de todos os gostos.

A beleza, genuinamente negra, é famosa internacionalmente. A presença do bloco afro Ilê Aiyê além de ter proporcionado maior visibilidade na mídia ajudou e continua ajudando no processo de auto-estima dessas meninas e meninos que nascem e crescem ouvindo os “Mais belos dos belos”. Desse modo, ser negro e assim se apresentar perante a sociedade é motivo de orgulho e resistência. “As deusas do ébano” sobem e descem a ladeira do Curuzu esbanjando carisma e beleza.

Os salões afro de Jackson e Jerusa Menezes não são apenas salões e, sim, locais que possuem uma carga simbólica e representativa incomensuráveis se tomarmos como pressuposto uma sociedade alicerçada na política e no ideal do branqueamento. Assim, andar pela Liberdade é entrar em contato com um cantinho único e singular da “baianidade” e suas respectivas problematizações.

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