sexta-feira, 21 de julho de 2017

Roncó ... O silêncio que deveria trazer paz


Por Patrícia Bernardes
(texto registrado em cartório – Julho 2017)
Em tempos em que todos se assumem saber o seu “lugar de fala” , eu me pego a questionar onde estão estas “falas” . Ao longo de 40 anos de vida e 18 anos de caminhada religiosa em busca da sonhada “paz” descrita nos livros de Candomblé , tornei-me “insubmissa” nesta caminhada em prol da verdade dos “roncós inquietos e conturbados deste século”sob a luz da Universidade Federal da Bahia , através de seu Núcleo de Estudos Interdisciplinarares sobre a Mulher (NEIM) . Eu poderia aqui tecer a minha construção inicial da minha submissão de mestrado , dentro do polo epistemológico da confiabilidade e da minha técnica de validade de conteúdo e evidências porém , estou em processo de demarcação de um polo teórico de modelo acessível a todos pertencentes ou não ao Candomblé . 
A escolha do tema “ A Distorção do Conceito de Hierarquia nos Terreiros de Candomblé ; A Conturbada Passabilidade do Roncó e a Formação da Geração ‘ Candomblé On Line ’” nasceu da inquietação cotidiana de não entender a ascensão de uns e declínio total e flagelo de outros . A luz inicial da minha reflexão sobre este tese de mestrado será a “caminhada para a iniciação” realizada no roncó , lugar sagrado onde ficam recolhidos os iniciados . Usarei como base temática e metafórica os objetos sagrados como o apèrè ( banco de madeira pequeno)e o eni ( esteira de palha ) como comprovação e distorção do mau uso destes instrumentos de “submissão ao sagrado” como forma de prática de crimes como assédio moral , assédio sexual , estupro de vulnerável , estelionato e homicídio . 
“ Lugar de fala que silencia vítimas de violência em espaços públicos não é lugar de fala” , Patrícia Bernardes . 
A tecnologia chegou aos terreiros de Candomblé e as denúncias , fotos e relatos respaldam a importância de um estudo profundo desta formação crescente da “Geração Orixá On Line” onde os fundamentos pertencentes ao awo ( segredo) do sagrado é continuamente “vendido” em telefonemas inescrupulosos com “ listas de obrigação” e “ ebós de prosperidade” tão quão perversos quanto a estimativa doentio de violência física , moral e psicológica relatada pelos denunciantes da Igreja Católica e da Igreja Protestante . 
A “ maquiada” hierarquia praticada nos Terreiros de Candomblé atuais são facilmente detectadas a medida que visualizamos o crescimento desordenado dos Terreiros Urbanos e o declínio estrutural dos Terreiros tombados . Este recorte de estudo é utilizado por mim para fundamentar a prática incoerente de abusos , muitas vezes descritos pelas vítimas de falsos babalorixás e yalorixás , como estelionato . 
Previsto por lei , toda a analogia destes crimes produzidas em meus estudos científicos em iniciação em Julho de 2017 , pretende realinhar o conceito do sagrado x perverso escondido por debaixo das folhas que forram o chão onde são colocadas os objetos do sagrado para suporte de quem deveria ser o guardião daquele corpo material na Terra a ser apresentado ao sagrado no céu no momento de sua “ feitura” ; entrega/confirmação .
A passabilidade no roncó será estudada de acordo com a vulgarização e permanência criminosa de pessoas sem caráter que se utilizam de fundamentação “ errônea” de orí (cabeça) meji (metade) para violentar os corpos sagrados de pessoas , na maioria mulheres e jovens de 15 á 20 anos em transe ou não , para a prática de sexo oral ou penetração inicial nos órgão genitais , sob a argumentação de fazer estas vítimas serem testadas se estão ou não incorporadas de seu orixá . Salientando também o uso , neste contexto , a coação e a submissão a vergonha pública caso haja denúncia junto aos seus “ irmãos de santo” , nome dado aos também frequentadores do mesmo “ barco” (grupo de iniciados ) . 
Desbravar é a minha ação diária em nome de mulheres e adolescentes vítimas da violência perversa que assola o Candomblé atual . É imoral a situação atual do Candomblé nos dias atuais salientando que o que quero não é desmerecer ou perseguir esta prática religiosa na qual eu também faço parte . Eu , Patrícia Bernardes , sugerida como filha de Iroko , quero apenas “ retirar estas folhas imundas” que cobrem a visão do poder público e de nada nos honra na terra sagrada dos orixás . Estes criminosos comerciantes de “ ebós de pureza e prosperidade” devem ser denunciados a luz da Justiça e não somente citados em rodas de ejò (fofocas) nas festas de obrigação suntuosas para quem visita e nada sagradas para quem esteve presente no roncó . 
Que a ancestralidade me guarde nesta caminhada ao lado da minha orientadora de pesquisa e de todos aqueles que participaram direta e indiretamente do resultado final da minha pesquisa .
Olorum Modùpé .