sábado, 25 de setembro de 2010

Intolerância Religiosa invade Recôncavo Baiano



Parte da Roça de Ventura, como é conhecida o Terreiro de Candomblé Jêje Marrin denominado “Zô Ôgodô Bogum Malê Seja Hundê”, está sendo invadida pelo posseiro da Fazenda Altamira, o advogado Ademir Passos. Segundo o Ogan responsável pelo terreiro, um trator está desmatando a área, provavelmente para iniciar imediatamente a construção de um condomínio residencial. Segundo ele, o tratorista por pouco não derrubou uma árvore sagrada, plantada em 1878, que fica localizada no limite entre o terreiro e a fazenda.

A Fazenda Altamira, que a Comunidade/Terreiro do Seja Hundê chama de “Roça de Cima”, pertencia na década de 1870 a José Maria de Belchior, conhecido como Zé de Brechó. Nessa fazenda, ele, juntamente com a africana Ludovina Pessoa, a responsável pela fundação do Terreiro do Bogum, de Salvador, fundou o Seja Hundê de Cachoeira que depois da abolição da escravatura se transferiu para uma roça contígua, a citada Roça de Ventura.

Vendido em 1904 pelas irmãs e herdeiras de Zé de Brechó aos filhos de Zacharias Milhares, estes vendo muitas assombrações no lugar venderam, em 1912, ao advogado Moyses Elpidio de Almeida, Em 1922 a fazenda foi adquirida pelo advogado Nelson Falcão em mãos de seu colega Moyses. Este, também assombrado, vendeu a Aurino Longuinho (que ao ver numa assombração quase morre). Longuinho então revendeu, ou devolveu o pepino, ao Dr. Nelson, que legou a seus filhos, que, assombrados, legaram a seus netos, permanecendo até poucos dias atrás em mãos da última herdeira, Marta Falcão.

Assombrada, Marta doava e oferecia a propriedade pela bagatela de 20 mil reais (por 15 mil o acordo era fechado). Muito barata para uma propriedade de 12 hectares de terras ,bem localizada e cheia de axé plantadas por africanos. Como tudo tem um por que, o porquê da barateza era que o imóvel está até "aqui"atolado de dívidas com o INCRA.Tudo desmoronou, a terra perdeu a força, e todos os outros proprietários se deram mal .O Seja Hundê está em processo de tombamento pelo IPHAN e no projeto está incluída a área onde originou o Terreiro.

O empreendedor advogado Dr. Ademir Passos tem lá suas razões para encarar o negócio. Ele é também posseiro da problemática e irregular Fazenda Caquende, um balneário cheio de história, lugar onde acolheu Von Martius e Von Spix, mas que foi abandonado pelo ex-deputado e ex-vice-governador Edvaldo Brandão Correia. Dizem por aí que o Dr. Ademir pretende fazer um condomínio de luxo, algo do tipo Costa de Sauípe.

Fonte: Correio Nagô Edição do Texto p/este Blog: Patrícia Bernardes

Vamos por parte... Rsrsrsr...

O caso é sério, porém se repararmos bem na situação, os fundamentos "plantados" ali são tão genuínos (matriz africana legítima) que nenhum proprietário posterior tem tido paz ao gozar do local adquirido.

A ingenuidade dos que ainda fazem parte da Cultura de Matriz Africana no Estado da Bahia é facilmente "barganhada" e é justamente aí que os gestores em Cultura e Turismo tem "feito a festa" na captação de recursos e "acordos obscuros" nunca visto, revistos ou acompanhados judicialmente. A inocência de alguns negros recém libertos fez com que grandes Terreiros de Candomblé fossem "degradados" em sua essência. Sempre falei a quem de direito que a questão da Reforma Agrária no Brasil perpassa por aspectos sensíveis de religiosidade e etnicidade. A TV e as Rádios se mantiveram ausentes ou , por vezes, só desejaram colocar em pauta a violência entre as "terras invadidas" e os chamados " invasores".

Alguém perguntou quem eram os invasores?Alguém perguntou o que estava sendo invadido? Não...Ficamos reféns de Movimentos Sociais em Prol da Desapropriação de Terras com "pano de fundo" extremamente partidário e as propinas foram sendo passadas culturalmente ano após ano sem investigação ou catalogação nenhuma.

Tudo no Brasil antes da Lei Áurea era dividido entre Grandes Fazendas e Quilombos. Quilombos estes que proliferaram nossa cultura religiosa e social. Em 2010, querer um órgão público que se diz gestor de um patrimônio imaterial, vim pra cá nos dizer que não há herança reconhecida para tamanho número de hectares não é legítima? Por que só não é legítima agora? Depois de obter em seus "bolsos" milhões em verba do Minc ou vindas de Construtoras Estrangeiras?.

Yansã tome a frente disso...Ogum dê fim a todos os males...e Ossain e Oxossi continuem mostrando a estes salteadores a verdade absoluta de quem pertence estas terras.

Apesar dos herdeiros não ter entendimento espiritual...advogados, tratoristas e os demais envolvidos já estão sentindo como funcionam as coisas em locais de "fundamento " legítimo na Bahia. Pra mim, nesta história, não haverá vencedores. Em sua essência o local nunca será um Resort.Será sempre lotado de visões, aparições e sem lucratividade.

A dor de um filho de santo perder um ibá mantido a anos é imensa...mais o seu Orixá conhece a essência do seu coração.

Odofiabá!...Axé de Paz aos batalhadores desta causa.

Vamos com fé...

Patrícia Bernardes

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