domingo, 5 de fevereiro de 2012

A carnificina midiática e o Pacto pela Vida



escrito por Pedro Caribé

No meio de greve parcial dos policiais militares baianos é difícil separar violência material e simbólica. Há um ligeiro aumento de homicídios, alguns saques e exército armado nas ruas. Também há boataria e pânico em grande medida construído por supostos policiais e pelas mídias, sejam jornais, rádio, tv, portais na internet ou redes sociais.

A aliança entre setores da polícia e da mídia para promover o terror não é nenhuma novidade. Filmagens dentro de delegacias, sentenciamento de inocentes, exposição de famílias, imagens de corpos ensanguentados em horário inadequado. Cenas onde os personagens são basicamente jovens negros de bairros populares. A construção de uma cidade sitiada, em guerra, onde o fuzil é a solução.

Esse quadro é costumeiramente denunciado por entidades como a Campanha Reaja!, o Conselho de Desenvolvimento da Comunidade Negra (CDCN) e Ministério Público Estadual.

Na publicação A Construção da Violência na Televisão da Bahia: um estudo dos programas Se Liga Bocão e Na Mira (EDUFBA, 2011), esse panorama foi sistematizado por seis meses no ano de 2010. O material é fruto de parceria entre o Centro de Comunicação, Democracia e Cidadania (CCDC) da Facom-UFBA, Cipó Comunicação e Coletivo Intervozes.

Os membros desta publicação estão presentes no Conselho Estadual de Comunicação e têm alertado governo e empresários do setor sobre os impactos destes conteúdos. No Conselho um dos objetivos é formular uma política de comunicação que corresponda aos anseios de cidadania.

Até o momento o Pacto pela Vida não tem dado respostas a estes anseios, apesar de ser coordenado pela Secretaria de Comunicação Social (Secom). As práticas de reportagem dos programas policialescos são naturalizadas por impressos e outros telejornais. O resultado é que nesta greve parcial o Estado demonstra fragilidade enorme em dialogar com a sociedade. Não se trata da mídia apoiar o governo, ou o governo controlar a mídia. Longe disso, mas sim ter cobertura socialmente responsável dentro das Leis e dos tratados internacionais, e não estimular o caos tendo como cúmplices servidores públicos, os policiais.

Enquanto a máquina de matar e expor jovens negros nas telas foi útil ao governo, não se teve iniciativa de modificar. Agora se tornou um problema, espalhou o pânico nas ruas da classe média, no comércio, indústrias de entretenimento, turismo. E provavelmente só a mídia e a oposição lucram com a situação. Talvez seja o melhor momento do governo ouvir aqueles que têm a oferecer outro modelo.

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