sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Curuzu espera a 32ª Beleza Negra



Há 37 anos atrás, quando do surgimento do Ilê Aiyê, não havia nenhum registro de que uma mulher negra tivesse ousado concorrer em uma competição de beleza. Apesar da população brasileira ser majoritariamente mestiça (este é um fato histórico irreversível), o Brasil sempre exportou um biótipo de mulheres nos concursos de beleza que nunca correspondeu à realidade étnica nacional. Excetuando os concursos de “mulatas” e os “oba-obas” dos “ziriguiduns”, que não passaram pela questão da consciência de negritude, e nem mesmo da valorização da mulher.

Em se tratando de Salvador, Bahia, a questão se agrava muito mais. É só com o surgimento do Ilê que vem à tona a discussão acerca “de ser negro”, da negritude, do padrão de beleza diferente – mas não inferior – dos cabelos, da pele, das indumentárias, da história. Quem somos, de onde viemos, de África, dos reinos e das culturas africanas, de reis e rainhas africanas. O Ilê “botou a boca no mundo”. Cantando, contando e recontando essas histórias através das letras das músicas que, além de elevarem a estima da população negra baiana, “ajudou a Bahia a se enxergar como uma nação negro-mestiça que é”.

O trabalho de resgate de identidade étnica que o Ilê vem fazendo ao longo dos anos, através da música, tem sido tão relevante que a Bahia mudou seu visual, seu ritmo, seu jeito de ser, falar, alguns costumes e modos de lazer. A importância desse concurso, como parte das atividades do Ilê Aiyê, foi muito mais além do que outro qualquer, pois ele trata da promoção de uma cultura, ou conjunto de culturas, do qual somos herdeiros e transcende as medidas de cintura, quadris, cor de olhos e cabelos. Esse concurso reafirma uma identidade, resgata valores, mostra expressões de cultura, alavanca a comunidade para vôos mais altos.

O ideal seria que no nosso país houvesse muitos concursos em que todos grupos étnicos participassem com igualdade de condições, já que alguns afirmam que vivemos numa “democracia racial”. Assim, nem caberia um concurso de “Beleza Negra”, se o que reza a constituição brasileira, acerca da igualdade de raças, fosse uma realidade.

Vivemos ainda num país machista e racista. Imagine a carga de preconceitos que recai sobre a mulher nesse país, principalmente sendo ela uma mulher negra! Ademais, é corriqueiro, habitual mesmo ouvir das pessoas jargões na linguagem do dia a dia, e até mesmo da imprensa, tais como: “buraco negro”, “a coisa está preta”, “lista negra”, “nuvem negra”, “passado negro”, entre outros, todos indicativos de coisas ou situações ruins, indesejáveis, negativas. Hoje a sociedade já se habituou a ouvir e a falar em “beleza negra”. Graças ao movimento de negritude na Bahia, desencadeado nos anos setenta pelos blocos afros e encabeçado pelo Ilê Aiyê.

Um dos maiores objetivos da Associação Cultural Ilê Aiyê é sedimentar a auto-estima na comunidade negro-mestiça de Salvador e propagar a cultura afro-baiana para os mais diversos pontos do mundo. Na “Noite da Beleza Negra”, o Ilê faz isso com o foco direcionado para a mulher negra.

Mas a estética que rege a noite é ampliada. São analisados os trançados dos cabelos, as estamparias do tecido, a graça da dança mas, sobretudo, a candidata deve ter consciência da sua negritude e ser atuante na comunidade para tornar-se vencedora da Noite da Beleza Negra. Por isso, quando o Ilê Aiyê realiza esta Festa está fortalecendo a cultura baiana através da afirmação da consciência negra e da manutenção das nossas raízes.

Na ”Noite da Beleza Negra”, também prestigiada pelo povo e pela intelectualidade nacional e local, ocorre sempre 15 dias antes do sábado de Carnaval. Nesta noite, será escolhida, entre as várias finalistas, a Deusa do Ébano, que brilhará no Carnaval/2011 e participará das apresentações do Bloco no Brasil e no mundo durante todo o ano.


Serviço:


O que: 32ª Noite da Beleza Negra

Quando: 12/02/2011 às 22hs

Quem: Band'Aiyê /Margareth Menezes e Clécia Queiroz

Onde: Senzala do Barro Preto (Curuzu)

Quanto: R$ 30

Informações: 2103-3400


foto: Patrícia Bernardes

enviado por Bloco Afro Ilê Aiyê


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