segunda-feira, 21 de novembro de 2011

O “saco sustentável” do Papai Noel em Salvador


por Patrícia Bernardes (Jornalista e Pesquisadora)

É triste a noção patética de empregabilidade que a Rede Bahia coloca como oportunidade de emprego nesta época do ano em Salvador. Quando não é para operador de Call Center é para vendedora na Baixa dos Sapateiros. Sei que este perfil perpassa por questões óbvias como as questões de Gênero e Raça (90% destes jovens e moças não tem o perfil físico de “gente bonita” pra trabalhar nos grandes shoppings)... contudo dizer que isso é futuro é demais pra minha cabeça.

Desde a chegada do programa “Bolsa Família” o número de pais e alunos atuantes em sala de aula chega a números ridículos,segundo os próprios educadores. A miserabilidade se tornou uma questão patológica.

Lembrei-me do DIEESE em seu relatório de 2005 que diz:

[...] A inserção das mulheres negras no mercado de trabalho brasileiro é nitidamente desvantajosa, ainda que sua participação na força de trabalho seja mais intensa que a de mulheres não-negras. A presença da discriminação racial se acumula à ausência de eqüidade entre os sexos, aprofundando desigualdades e colocando as afrodescendentes na pior situação quando comparada aos demais grupos populacionais – homens negros e não-negros e mulheres não-negras. Elas são a síntese da dupla discriminação de sexo e cor na sociedade brasileira: mais pobres, em situações de trabalho mais precárias, com menores rendimentos e as mais altas taxas de desemprego. [...]

Fiquei pensando como os pais destes jovens que de forma “confortável e errônea” justificam a não colocação qualificada dos seus filhos no mercado de trabalho por conta da falta de oportunidade.

Diante da legislação vigente do programa “Bolsa Família” (Lei nº 10.836, de 9/1/2004) compete-se que:

[...] O Bolsa Família pauta-se na articulação de três dimensões essenciais à superação da fome e da pobreza: Promoção do alívio imediato da pobreza, por meio da transferência direta de renda à família; Reforço ao exercício de direitos sociais básicos nas áreas de Saúde e Educação, que contribui para que as famílias consigam romper o ciclo da pobreza entre gerações; Coordenação de programas complementares, que têm por objetivo o desenvolvimento das famílias, de modo que os beneficiários do Bolsa Família consigam superar a situação de vulnerabilidade e pobreza.[...]

E aí? O que é feito verdadeiramente com este auxílio?

Nos primeiros 30 dias letivos as salas ficam lotadas de discentes... após a chegada do sonhado “ Salvador Card” , os mesmos discentes desaparecem. Em período de provas, segundo testemunhos dos docentes de escolas públicas/municipais, o número de alunos torna a crescer nas salas de aula com a presença, por vezes, dos seus pais.

Por que a presença massiva dos pais?

Nada haver com o rendimento escolar dos seus filhos. Habitualmente, 80% das vezes é para, de forma agressiva e injusta, colocar os docentes numa espécie de “paredão big brother” e argumentar os péssimos hábitos domésticos que os filhos trazem para sala de aula e creditam o rendimento abaixo da média aos “coitados” do professores.

Onde estamos errando? Aonde chegamos? O que estamos promovendo em sala de aula?

Na busca, muitas vezes “ilusória”,de que o problema não são os alunos e as demandas familiares e sim a forma de dar aulas é que já se tornou ultrapassada, milhares de docentes seguem de forma “desenfreada” aos cursos de capacitação/semináriosencontros/simpósios/congressos/conferências e/ou extensão tentam mudar a forma de lecionar e terminam nos postos de saúde ou na fila de espera para atendimento dos planos de saúde que são descontado em suas folhas de pagamento que nem sempre atendem às necessidades destes docentes – a depressão e a síndrome do pânico.

O que questionar aos gestores públicos? O que reivindicar? O que solicitar dos gestores escolares muitas vezes também reféns dos programas federais/estaduais/municipais?Segundo o Sistema PED (Pesquisa de Emprego e Desemprego) na região metropolitana de Salvador, em Novembro de 2011 entende-se que:

[...] Apesar de em termos absolutos a redução do contingente de desempregados ter sido mais favorável à população negra, em termos relativos favoreceu mais aos não-negros, por conta das variações na População Economicamente Ativa (PEA) – no ano de 2010, 43 mil pessoas entraram no mercado de trabalho, sendo que, enquanto aumentou em 48 mil o número de negros na PEA, o contingente de não-negros reduziu em 5 mil pessoas. Logo, os reflexos positivos da geração de postos de trabalho e de redução no contingente de desempregos que atingiram mais a população negra, não foram suficientes para reduzir as desigualdades existentes. Observa-se que há uma sobre-representação da população negra entre os desempregados, uma vez que representam 91,2% deste contingente populacional percentual bem acima do registrado entre a população ocupada (86,7%) e da própria PEA (87,4%) [...]

Diante destes dados verificamos que o que erro não se dá na formação de novas políticas públicas de empregabilidade. Somente devemos cobrar a execução da sua maioria já em tramitação. Absorver como fato que uma família não garante o “ir e vir” de seus filhos, dentro dos cursos de qualificação profissional em sua própria comunidade, para que os mesmos saiam da margem de desemprego e passem a fazer parte do grupo de empregados por temer a saída deste filho do Programa Bolsa Família é complexo e alarmante.

O que é ter filhos? O que é educar?O que é ser mãe? Qual a definição de família?

Qual a perpsctivas destes jovens que avaliam seus “iguais” em programas jornalísticos duvidosos e animalescos e vivenciam o contato diário com os chefes da criminalidade como forma de “ascensão financeira, beleza e poder”?

Por que “bater palmas” nas portas das lojas de magazine com engarrafamentos diários ou convencer um novo cliente a fechar “negócio” num ambiente de Call Center se tornou sinônimo de “futuro profissional”? Ninguém quer mais ouvir falar de histórias célebres como as de “Carlito Marrom” ou Luislinda Valois e só querem saber do traficante Antônio Francisco Bonfim Lopes conhecido como “Nem” ou de Kelly Sales Silva , conhecida Kelly Cyclone tem mais importância?

Segundo Suzana Herrera (2006a), na análise do Relatório dos Observatórios de Mídia Brasileiros como Instrumentos do Controle Público é nas páginas da web que os observatórios encontram o principal meio de divulgação de suas ações e comunicação com o público. A autora chama atenção, ainda, para a pluralidade apresentada pelos observatórios e elenca alguns tópicos segundo os quais os observatórios latino-americanos se diferenciam; são eles: origem, composição, orientação ideológica, estruturas e modos de funcionamento, aspectos dos meios que analisam o diferente instrumental metodológico que empregam e a sistematização de sua atividade (HERRERA, 2006b).

Por fim, compartilho a minha reflexão aos educadores e gestores leitores deste artigo “informal” quanto à crescente, nociva e alarmante contribuição dos meios de comunicação e dos representantes familiares (pai e/ou mãe) quanto as ações afirmativas “boicotadas” para a evolução destes jovens, em sua maioria afrodescente que estão supostamente inseridos no mercado de trabalho na cidade de Salvador durante “as festas de final de ano”.

Referências:

A inserção da população negra no mercado de trabalho da Região Metropolitana de Salvador

Disponível em: http://portal.mte.gov.br/data/files/8A7C816A337452280133B81D194C319F/Boletim%20Especial%20Negros%20PEDRMS%202011.pdf Acesso em: 21/11/11

Análise dos Observatórios de Mídia Brasileiros como

Instrumentos do Controle Público

Disponível em: http://www.ufpe.br/observatorio/relatorio.pdf Acesso em: 21/11/11

O Programa Bolsa Família

Disponível em: www.portaldatransparencia.gov.br Acesso em: 21/11/11

A mulher negra no mercado de trabalho metropolitano: inserção marcada pela dupla discriminação. DIEESE 50 anos.

Disponível em: http://www.dieese.org.br/esp/estpesq14112005_mulhernegra.pdf Acesso em 21/11/11

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