terça-feira, 10 de julho de 2018

Subutilização Feminina – A política do “ seja menos” pra alcançar mais na Bahia




Por Patrícia Bernardes Sousa

“Em sociedades cuja dinâmica estrutural conduz à dominação de consciências, a pedagogia dominante é a das classes dominantes. A manipulação, na medida em que uma minoria submete uma maioria, aparece como uma necessidade fundamental para se conseguir um tipo de organização que impede a emersão das massas populares, ou seja, uma organização que preserva a conquista e o poder de quem domina.”
Paulo Freire

Parir, não parir. Amar, não amar.
 Ascender o outro e se apagar.

Esta é a lógica vigente das mulheres negras na Bahia em 2018. O sagrado direito da escolha vem sucumbindo as relações de diálogo entre o que queremos e o que nos é disponibilizado nas políticas públicas de construção pessoal.

Nascemos do desconforto das águas de um ventre sem estrutura, já que não temos acesso a uma Atenção Básica de Saúde Humanizada, num país que se acostumou à enterrar como anônimas milhões de mulheres negras como se fazia, até pouco tempo atrás,  quando éramos lançadas ao mar após parir ou sermos violentadas por nossos “ donos”.

Nascemos do desconforto de nos alfabetizar para votar e ainda não avançamos no direito de escolher.
Nascemos do desconforto de existir, pois não temos direito de ir aos espaços públicos sem sermos chamadas de “exóticas, estampadas demais ou macacas”.

Não fomos abortadas mais nos tratam como se fossemos. Não somos vistas. Não somos lembradas.
A lógica da visibilidade das políticas públicas de inclusão da mulher negra é confrontada pela “ofensa jurídica do nosso existir”.Sim, somos uma ofensa ao poder público que perpetua a branquitude e a coisificação de mulheres negras sucateadas em seu íntimo pela normativa masculina de permanência neste Brasil que aí está.

A alfabetização se tornou uma luta contínua. A alimentação virou motivo de oração e invocação de ajuda ao sagrado. A empregabilidade se tornou o retrato fiel do “escambo de interesses” pra fazer crescer e dar visibilidade a quem nunca nos enxergou desde o ventre. Apenas 10% das mulheres negras completam o ensino superior.

 Sobreviver no Brasil nos faz acreditar que precisamos “ ser menos” para não adentrar com propriedade e conteúdo qualquer espaço de poder em eminência de modificar políticas públicas para nossa inclusão .Uma correlação clara entre gênero e desemprego que evidencia que 54% das mulheres estão desempregadas no Brasil .

Quem são “as nossas” representantes na esfera política federal?!









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