Por
Patrícia Bernardes Sousa
“Em sociedades
cuja dinâmica estrutural conduz à dominação de consciências, a pedagogia dominante
é a das classes dominantes. A manipulação, na medida em que uma minoria submete
uma maioria, aparece como uma necessidade fundamental para se conseguir um tipo
de organização que impede a emersão das massas populares, ou seja, uma
organização que preserva a conquista e o poder de quem domina.”
Paulo Freire
Parir, não parir. Amar,
não amar.
Ascender o outro e se apagar.
Esta é a lógica vigente
das mulheres negras na Bahia em 2018. O sagrado direito da escolha vem
sucumbindo as relações de diálogo entre o que queremos e o que nos é
disponibilizado nas políticas públicas de construção pessoal.
Nascemos do desconforto
das águas de um ventre sem estrutura, já que não temos acesso a uma Atenção
Básica de Saúde Humanizada, num país que se acostumou à enterrar como anônimas
milhões de mulheres negras como se fazia, até pouco tempo atrás, quando éramos lançadas ao mar após parir ou
sermos violentadas por nossos “ donos”.
Nascemos do desconforto
de nos alfabetizar para votar e ainda não avançamos no direito de escolher.
Nascemos do desconforto
de existir, pois não temos direito de ir aos espaços públicos sem sermos
chamadas de “exóticas, estampadas demais ou macacas”.
Não fomos abortadas
mais nos tratam como se fossemos. Não somos vistas. Não somos lembradas.
A lógica da
visibilidade das políticas públicas de inclusão da mulher negra é confrontada
pela “ofensa jurídica do nosso existir”.Sim, somos uma ofensa ao poder público
que perpetua a branquitude e a coisificação de mulheres negras sucateadas em
seu íntimo pela normativa masculina de permanência neste Brasil que aí está.
A alfabetização se
tornou uma luta contínua. A alimentação virou motivo de oração e invocação de
ajuda ao sagrado. A empregabilidade se tornou o retrato fiel do “escambo de
interesses” pra fazer crescer e dar visibilidade a quem nunca nos enxergou
desde o ventre. Apenas 10% das mulheres negras completam o ensino superior.
Sobreviver no Brasil nos faz acreditar que
precisamos “ ser menos” para não adentrar com propriedade e conteúdo qualquer
espaço de poder em eminência de modificar políticas públicas para nossa
inclusão .Uma correlação clara entre gênero e desemprego que evidencia que 54%
das mulheres estão desempregadas no Brasil .
Quem são “as nossas”
representantes na esfera política federal?!
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