segunda-feira, 30 de setembro de 2013

O “lepo-lepo” e o “tapuf-tapuf” na terra do axé



por Patrícia Bernardes Sousa

Pois é minha gente...Estou de volta ...
Onde a educação não faz morada a violência cresce. Isso é fato.
 Na terra dos “Encantos e Axé” que permanece sendo “Terra de Todos Nós” ou  onde “Agora Tem! Tem! Tem! “ o certo é que essa ideia de  inclusão e amplitude de projetos sociais ao nosso povo negro de nada tem adiantado.
 Sendo drástica? Não. Hipocrisia não faz a minha cabeça. Voltando no tempo, dialogando com os pensamentos de Milton Santos e até mesmo o próprio Zumbi dos Palmares, quando foi que a “contenção” da chamada “perturbação” da ordem foi tão associada ao genocídio? ! É muito cômodo para os ditos “ partidários da lei da ordem e dos bons costumes” julgar um bairro negro pela sua oralidade , hábitos culinários e expressão corporal.
 Sim .Mais e aí? Por que eu danço Play Way , Bronka , Psirico, Samba Comunidade e muitos outros eu não sei pensar ? Eu sei sim . A diferença deste jovem que escuta este som para os jovens de classe média/alta nada mais é que a proximidade com a sua realidade . Isso não é surpresa pra ninguém .  Não é surpresa para quem as dança e nem é surpresa pra quem recebe em seus gabinetes o número alarmante de jovens envolvidos em furtos , roubos e homicídios por uso de drogas cada vez mais alucinógenas e com até “logo marcas” de cada “agência do crime”.  
Como combater o tal “Baralho do Crime” instituído de forma pejorativa pelas instituições ditas como “ controladoras e ordenadoras” da violência na capital baiana se a própria polícia que  é também da nossa raça está doente ? Doente sim. Doente da alma , doente do alto flagelo trabalhista que divide sua carga horária fazendo a proteção de supermercados , condomínios etc... e também mora nestas mesmas comunidades de baixa renda com os traficantes e jovens que servem de “avião/laranja” para estes serviços “terceirizados” do crime.  
Ah! Esqueci. As músicas são de baixo nível e afetam diretamente a vida e o comportamento destas pessoas . Não é isso ? Vamos começar assim :
1-      Qual escola fica em greve ou com paralisações durante 90% do ano letivo ? A pública municipal/estadual ou a particular?
2-      Qual a faixa etária e a raça das crianças e/ou jovens que estão nas “lan house” durante este período acessando as suas redes sociais e combinando os seus “bailinhos” de final de semana regado a muita cerveja e este tipo de música?
3-       Quantos projetos sociais conseguem vencer a burocracia municipal/estadual para inserir estes jovens em centros de arte-educação?
4-      Qual a situação dos  tais “Centros Sociais Urbanos – CSU” da Bahia ?
5-      Qual a situação real dos professores da rede pública de ensino ? Eles estão aptos (mente e corpo) para lidar com essa nova realidade juvenil na Bahia ?
Pois é. Responda estas minhas perguntas e avalie o tamanho da sua cara de pau como candidato a vereador , deputado, governador , prefeito ou qualquer outra linha de ação política nas próximas eleições. Assim é muito “hipocritamente tranquilo” avaliar a situação destes jovens e condená-los a espaços de lazer imundos e sucateados e chamá-los de “área de lazer e esporte” .
Ah! Patrícia Bernardes . Mais temos exemplos de vitória como os projetos criados em nossos “Pontos de Cultura” espalhados pela Bahia e pelas Associações de Moradores . É muito fácil pra você citá-los já que não foi o seu esforço para tirar cada criança dessa das ruas para colocar em sala de aula não é?
Não existe preconceito na Bahia. Existe VIOLÊNCIA.
O preconceito é forjado , hipócrita ,dissimulado . A VIOLÊNCIA é quente , é feroz, é latente e imediata.
Ao assistir qualquer transmissão de noticiário local , pela manhã ou a noite , é notório o “brilho no olhar” de um contingente policial armado  durante qualquer intervenção cultural musicada ( Lavagem , Carnaval , Micareta) .
Negros espancando negros no “tapuf – tapuf” do dia a dia independente do “lepo-lep” que esteja fazendo a trilha sonora de nossas comunidades.
O VOTO ainda é a única arma para “estancar” estas ações. A EDUCAÇÃO ainda é o único caminho para que as nossas crianças e jovens negras acreditem que elas podem ter outro futuro que não seja ser “ o patrão ou patroa do crime” .
Não a educação regida por uma “lavagem cerebral partidária” mais uma educação apartidária nascida e construída com exemplos de nossos ícones que estudaram muitas vezes somente com um suporte de uma  “vela de 7 dias” como Luislinda Valois e se tornou uma desembargadora e outros tantos mais ...
Os nossos pares , irmãos(as) negros , sempre serão “ manobrados” enquanto nós mesmos não nos autovalorizar.  Mude a sua comunidade através da educação inclusiva e não partindo deste processo “ separatista” de educação onde a oralidade de seu aluno(a)  não pode ser levado em consideração. Lei as letras destas músicas junto com eles , promova redações , convide o grupo de dança destas músicas que eles gostam de fazer no pátio do recreio para fazer uma Semana de Cultura Local em sua ambiente costumeiro , mude o seu olhar ...
O “tapuf- tapuf”  da polícia pode começar a não achar espaço aí . Não é uma ação romântica . É uma ação real . É de criança que se faz o homem , já diziam .
O verdadeiro “Pacto pela Vida” se faz assim . 

Foto/Fonte: Google 

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