Jorge Gauthier
Em grande parte das disputas eleitorais, os candidatos a vice costumam ficar à sombra dos protagonistas, muitas vezes exercendo papel de figuração em peças publicitárias. Mas, na briga pela prefeitura de Salvador, as professoras Célia Sacramento (PV) e Olívia Santana (PCdoB) vêm assumindo, principalmente no segundo turno, posição de destaque nas campanhas de ACM Neto (DEM) e Nelson Pelegrino (PT), respectivamente, tanto nos atos políticos, quanto nas inserções do horário eleitoral. Para completar, hoje à noite, elas se vão confrontar pela primeira vez em um debate, organizado pela TV Aratu.Nascidas no ano de 1967, as duas são negras, vieram de origem pobre, têm o passado fincado na luta em movimentos sociais e fazem questão de ostentar, nos cabelos trançados, o orgulho típico de quem superou o preconceito através da batalha contra ele. Na reta final, ambas vêm usando essa experiência, lapidada no diálogo com comunidades, para angariar votos para seus candidatos a prefeito.Desde a campanha do primeiro turno, Olívia já vinha comandando sozinha atos da campanha petista, indo a caminhadas, mas intensificou sua atuação nos últimos dias. Ontem, por exemplo, realizou caminhada nas Sete Portas. No contato com o eleitor, sempre esbanja o sorriso largo e faz questão de, além do abraço, deixar com as pessoas propostas de campanha.Célia, por sua vez, tem a experiência em sua área de formação, Ciências Contábeis, valorizada na campanha, e, no corpo a corpo, ela está sempre ao lado do democrata, cumprimentando e ouvindo os eleitores. A eles faz questão de mostrar a viabilidade técnica de projetos para atender demandas das comunidades visitadas.
Linha de frente
As duas assumem papel ainda maior nos palanques da disputa quando o assunto são as políticas para os afrodescendentes. E é nesse ponto que ambas se confrontam com maior vigor. No lado petista, Olívia usa como tática o argumento de que o candidato rival é contra políticas públicas para os negros, além de criticar a aliança entre Célia e o democrata. “Eu não consigo me imaginar no lugar onde ela está. Somos resultado de uma luta muito árdua, uma luta secular”, diz Olívia, referindo-se ao fato de que a mãe de Célia foi uma das fundadoras do PT.Célia rebate as críticas da adversária, destacando que fechou parceria com o democrata porque ele incorporou no seu plano de governo 43 pontos do PV. Entre eles, o cumprimento do Estatuto da Igualdade Racial. “Neto firmou um compromisso com o PV. Vamos colocar para funcionar em Salvador o Estatuto da Igualdade Racial. Eu não poderia jamais estar do lado de alguém que fosse contrário às cotas. Queremos fazer de Salvador uma cidade mais justa, mais fraterna, mais igualitária”, afirma Célia.A candidata do PV, que já foi militante do PT, explica que se afastou do partido depois dos episódios de corrupção. “Fiquei estremecida com o PT quando eles expulsaram a então senadora Heloísa Helena, por conta do aumento dos aposentados. Nunca fui filiada, mas era militante. Mas, quando surgiu o escândalo do mensalão, me afastei de vez. Hoje, me juntei com o DEM ao olhar para o projeto político e perceber que é o melhor para Salvador”, completa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário