domingo, 24 de março de 2013

Fundação Félix - Banho Molecular

 
 
Na pequena hidráulica doméstica de PVC, tubos marrons conexões cola simples, baratos e dados a qualquer lugar existem duas bitolas 0,5 e 0,75, pensava eu, pensei sempre centímetros, pensamos centímetros, mas não sei porque o mundo fala tudo em centímetros, me pede milimetricamente tudo e se mede em polegadas, polegadas não são polegares referência, polegada são centímetros em par e mais um pedaço, 2,54 cm. Britânico Imperial, eles medem assim, eles vivem assim e o meu banho até hoje determinado pela forma que o império pensa, polegadas. Na pequena hidráulica doméstica de PVC nosso banho temos duas medidas ½ polegada ou ¾ de polegada. O primeiro dá pressão para o chuveiro, menor diâmetro tudo vem volumoso, água nos seus ¾ e depois se acotovelam para entrar no meio polegada.
Pensei a mim e a todos H2O moléculas nos nossos  três/quartos( ¾ ) existentes  do sim, não e talvez, acotovelando-se para entrar no meio ( ½ ), social,  pensar,  existir,  prazer, da realidade da vida do banho que tenha pressão perfeita de ser refrescante na cabeça alvo de nos fazer bem. Pensei o estreitamento repentino nas vidas determinadas pelas escolhas num mundo vulgar de tubos baratos capilares em todas as residências, as ricas e mansões, favelas e turbilhões lava-jatos de acariciar carros, sinônimos perenes fálicos de todas as cores. Capilares marrons baratos, iguais em todas as paredes com suas brincadeiras de bitolas determinando pressões nos corpos nus iguais nos banhos privados onde os peitos, vaginas e escrotos perdem as vestimentas que os adornam adereços.
E no banho quem sou? Água ou banhista? Quem sou?
Sou o mundo sonhado, cabeça pensante que não imagina o esforço que faz as moléculas acotovelando-se no vulgar sistemas de dutos, ou sou molécula que me aperto para tentar refrescar desejos?
Sou molécula gregária que só escorre pela existências de iguais que lubrificam com seus corpos o duto que escorro, ou sou banhista de jogar todas as moléculas fora sem se importar o que virá depois da última gota?
Para todos tenho um segredo a contar, sob os nossos pés, submersos, as vezes, embutidos outras nos caixotes empreendidos verticalmente de concreto, enterrados quase sempre, outra cor ocorre: branca. Outro duto , depois de todas as moléculas, dos banhos das vaginas e dos escrotos todos escorrem numa outra cor, no PVC branco, que é vendido não na imperial medida que lembra o primeiro dedo, é vendido em centímetros, normalmente eles não caminham para menores polegadas, ao contrário se esvai em maiores diâmetros até virar mar, são 100 milímetros, assim vendidos irmãos caçulas do centímetro, família. Brancos, não ficam impregnados com qualquer tipo de cheiro que convivam, indiferentes, sob os nossos pés estão eles e quer seja você água ou banhista escorre por eles, quer seja depois dos seus apertos, quer seja em pedaços de pele arrancados pela esponja, lá vamos todos: esgoto.
Perguntei um dia ao meu professor Alírio Damasceno, eu com 11 anos: professor o que é cadáver. E ele respondeu corpo-dado-aos-vermes.
Antes de se acotovelar molécula através de tubos indecentes ou tomar irresponsavelmente seu banho de desejos sem olhar a quem, olhe para seus pés e perceba que a cada momento a realidade escorre verdadeira no sistema muito conhecido de esgoto, longe das polegadas imperiais dos seus sonhos. Antes de dar seu corpo aos vermes lembre-se de ser molécula dessa enxurrada coletiva que é a humanidade e que existe espaço suficiente para não precisarmos dos cotovelos e que você consiga se perceber no futuro não esgoto mas no azul do mar.
 
Escrito em homenagem a minha amada Anne Rose que inspirou, com seus sonhos verdadeiros, esse pedaço de letra farpada que tenta dizer algo.
Evandro Calisto
 

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